24 de Setembro de 1925
NASCIMENTO
Olá
aqui está a minha terra!
O FUNCHAL
Fui batizada dia 1 de Novembro de 1925 na Sé do Funchal, tinha 1 mês e 8 dias
«Fui batizada em NOME do PAI...e do FILHO ... e do ESPÍRITO SANTO!»
«Chegada à idade escolar, estava a fazer 6 anos, meus pais decidiram, de comum acordo - a que eu mesma assisti - que eu iria para o único Colégio de Religiosas que então existia no Funchal - das irmãs da Apresentação de Maria!»
" Foram-se passando os anos e veio a Primeira Comunhão!...Aos sete anos e meio. apesar da promessa que fiz a Jesus, comecei a falhar à Missa dominical. Preguiçosa por natureza, deixava-me levar, bastantes vezes, pelo não me apetecer levantar e arranjar a tempo para acompanhar o meu pai e irmãos. Dava a desculpa que me doía uma perna...
No Colégio, considerada boa aluna e, em certas ocasiões, até invulgarmente exemplar foi com grande espanto que algumas das minhas colegas do Colégio, que já estavam inscritas na Ação Católica, me ouviram responder ao seu convite para também me inscrever, com um seco, decidido e importante «sou superior a essas coisas»! Tinha apenas 10 anos. Dei a primeira prova de que as coisas de Deus não me interessavam grandemente!"
Era colérica e voluntariosa!
Herdei do meu pai (havia entre nós afinidade de ideias e sentimentos, misto de ternura e de respeito) este temperamento nervoso e colérico! A última cena que me lembro: Tinha 13 anos. Em vésperas do exame de Desenho geométrico. Sentada a uma grande mesa, tinha ali espalhadas as esquadrias que preparava para levar para o dito exame. Vem o meu irmão - brincalhão como ele só - e dá-me um ligeiro abanão.
A pena caíu-me das mãos e foi pousar em cima de uma das minhas «obras de arte». Como se me tivessem tocado fios de alta tensão dei um salto e um «berro» e fui para
o vão da janela vociferar e chamar pela mãe, que apareceu logo. Creio que me encontrou a bater os pés no chão!. Quando eu pensava que ela me ía dar uma boa bofetada, deu-me uma bela lição. Sentou-se serenamente, fez sinal ao meu irmão para se retirar e, com a ponta do canivete, deixou-me a folha completamente limpa. Era assim minha mãe - serena, paciente, discreta. Mas também sabia ser enérgica. E eu, naquele momento, já tinha experiência disso! Dei muito trabalho e sofrimento à minha Mãe para me «domar».
Quando comecei. com grandes intermitências, a minha caminhada espiritual, ao darem-me a entender que este defeito me prejudicava muito, comecei a dar-lhe guerra..."
1943
. JOVEM UNIVERSITÁRIA DE COIMBRA
+ Manuel de Almeida Trindade, de 27 anos de idade, futuro Bispo, foi seu diretor espiritual enquanto esteve de universitária em Coimbra., e que a proibiu de pensar no Carmelo
Dom Manuel de Almeida Trindade, nasceu em 20 de Abril de 1918, em Monsanto - Portugal. Recebeu a Sagrada Ordenação Presbiteral em 21 de Dezembro de 1942, aos 24 anos de idade. Em 16 de Setembro de 1962, aos 44 anos de idade, é nomeado Bispo de Aveiro, recebendo a Sagrada Ordenação Episcopal como Bispo, em 16 de Dezembro de 1962. Em 20 de Janeiro de 1988, aos 69 anos de idade, resigna da Diocese como Bispo Emérito de Aveiro. Veio a falecer em 05 de Agosto de 2008, aos 90 anos de idade. Contava 65 anos de Presbiterado e 45 de Episcopado.
D. Manuel de Almeida foi considerado pelo Santo Padre um “sacerdote de verdadeira e sólida piedade e de invulgar talento e experiência”.
Depois de abdicar do cargo em 1988 e já com o título de Bispo Emérito de Aveiro, foi residir para o Seminário de Coimbra, onde havia sido aluno, professor e reitor. Ali continuou mantendo-se ao serviço do Povo de Deus, colaborando em tudo o que lhe foi possível fazer e escrevendo e publicando livros sobre temas variados, que nos levam a reviver acontecimentos e pessoas que o marcaram durante a sua permanência entre nós, e não só.
Em 1988 recebeu o titulo de Doutor Honoris Causa na Universidade de Aveiro no âmbito das comemorações do 15º Aniversário da Universidade.
Manuel de Almeida Trindade veio a falecer em 05 de Agosto de 2008, aos 90 anos de idade. Contava 65 anos de Presbiterado e 45 de Episcopado. Faleceu em 2008.
- Só alguns testemunhos de colegas da Faculdade
1 - «Disputávamos a sua amizade, mas a todas ela correspondia por igual. Amiga certa na hora certa. Sempre discreta e algo tímida sem forçar intimidades...»
2 - «Era exemplar, sempre serena...nunca se lhe ouviu falar mal de ninguém»
3 - «Sempre afável, simples, encantadora e completa...»
4 - «Era já uma jovem santa que se distinguia pela sua maneira de estar»
5 - «Connosco era sempre aberta, divertida, corretissima e natural em tudo!...»
6 - «A "Fininha" como a chamávamos, dada a sua aparênte fragilidade física
e a sua finura de trato, irradiava alegria, ternura, sensatez, equilibro e grande amor ao Senhor». «Era impecável sem ser insossa»
7 - «A Mercês era tão delicada, tão elegante no seu comportamento
sobrio que ninguém lhe apontava defeito ou
um deslize por insignificante que fosse..»
8 - « Valeu a pena ter-me cruzado com ela!»
1944
. O CHAMAMENTO DE DEUS - MARÇO
"No princípio de Março, do meu 1º ano da Faculdade, foi organizada, a nivel da A.C., uma campanha de Oração e estudo. Estávamos a oferecer, por certo acontecimento da vida do Santo Padre, uma cadeia de horas de estudo e outra de oração. Numa das noites dessa semana, tocou-me a oração às primeiras horas da madrugada...levantei-me... ajoelhei-me junto da mesa de cabeceira, onde tinha pousado um crucifixo e não sei como, ouvi que me diziam: «E se Eu te quiser assim, sempre dedicada à oração?».
Senti um grande estremeção... lembrei-me do Carmelo e a certeza dessa ser a minha vocação. Mas tinha 18 anos e começava apenas o meu Curso... E os meus pais? Oh! só de pensar neles me fazia estremecer!!! O Curso já não me interessava nada..!" (1944)
+Manuel dos Santos Rocha, futuro Bispo auxiliar de Lisboa e depois Bispo de Beja que animou a jovem Maria da Mercês, no final do Curso a entrar no «Claustro», acompanhando-a ainda uns bons anos no Carmelo
No Consistório de 14 de Março de 1949, o Papa Pio XII nomeia-o Bispo titular de Priene e Auxiliar do Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
Recebeu a ordenação episcopal na Sé de Lisboa a 29 de Junho de 1949 e escolheu com lema das suas armas episcopais a divisa Duc in Altum.
Em 1956 foi designado Arcebispo Titular de Mitilene, e por inerência de cargo, Vigário Geral do Patriarcado de Lisboa.
Participou como um dos padres conciliares do Concílio Vaticano II.
A 14 de Dezembro de 1965 foi nomeado pelo Papa Paulo VI, Bispo de Beja, pela Bula Dilecti Feliis. Recebendo as Letras Apostólicas a 3 de Janeiro de 1966, tomou posse por procuração no dia 24 de Fevereiro desse mesmo ano, e entrou solenemente na diocese de Beja a 26 de Fevereiro.
Até à sua resignação aceite pelo Papa São João Paulo II em 8 de Setembro de 1980 procurou consolidar e incrementar a acção pastoral anterior e teve o trabalho e o mérito de implementar na Diocese a reforma do Concílio Vaticano II, promovendo várias acções de formação neste sentido.
Aos 77 anos de idade faleceu em Beja a 16 de Fevereiro de 1983. Está sepultado no Jazigo dos Bispos de Beja, no cemitério da mesma cidade.
1951
. A ENTRADA NO CARMELO DE COIMBRA
"...por fim chegou o dia, quase oito anos depois de Jesus me ter dito: « E se Eu te quiser?». Entrei no Carmelo no dia 24 de Setembro de 1951"
"Meu Jesus eu amo-Te, quero ser toda Tua, de modo que, aquilo que Tu permitas seja aquilo que eu queira...É justo que depois de ter dado tudo, ande ainda a regatear qualquer coisita? (1953)
(Quando esteve muito doente): "...Jesus, que quando eu tiver a fraqueza de me virar para mim, de me preocupar comigo, com a minha saúdem com o futuro da minha vocação, seja TU que sobressaias rem todo o meu ser..." (1953)
Sobre esta situação escreveu mais tarde:
"Eu sentia-me mal, sem forças físicas, sem apetite, e qualquer trabalho, por menor que fosse, me deixava exausta; despertava, pela manhã, com o espectro do peso do dia que me esperava...e as lágrimas eram a minha defesa!...Comecei por viver isto em silêncio, mas depois tive de manifestá-lo..."
A Madre Maria Teresa do Menino Jesus de Praga, - espanhola -
sua Mestra e formadora no Carmelo de Coimbra
1960 -1980
. SUPERIORA EM COIMBRA
"Tem sido um ano muito provado. Têm sido meses de
grande sofrimento. Hoje quero oferecer-me a Nosso
Senhor para tudo o que Ele quiser. Que Ele aceite
esta pobre vida, os pequeninos nadas, a fim de
que os ossos irmãos perseguidos tenham
força de confessar a sua fé até ao fim!
Tenho dias de verdadeira tempestade
interior, em que a minha alma está
como um rochedo duro, onde nada
penetra. Um sofrimento inexplicável..."
(1961)
"Hoje tive o Menino Jesus na Cela... O Menino Jesus neste dia disse-me que avivasse a minha fé e o meu amor, que me entregasse completamente - não me prendesse a nada, ainda que muito santo e legítimo. Pediu-me também que repetisse com decisão os propósitos que fiz em maio e que me têm servido para o ano inteiro, especificando a humildade e a caridade."(1965)
"Só na medida em que nós formos santas, os outros aproveitarão da nossa imolação. E, por vezes, quanta rapina no holocausto!!! Em que estado estará a minha pobre alma? Terei adiantado nestes últimos meses, ou antes, terei retrocedido? Estás contente, meu Jesus? " (1965)
"Lembras-Te, Jesus, como foi a nossa tarde? Estive contigo naquela nossa Irmã velhinha, por vezes, tão confusa, tão inconsciente! Passámos bem a tarde !... Gostaste? Eu gostei porque apesar de que Te não senti minimamente vi-Te pela fé, naquele membro deficiente do Teu Corpo Místico" (1985)
"É preciso recomeçar com nova energia e toda a generosidade! Põe-se-me a interrogação: terá alguma utilidade para o Céu e para as almas esta minha pobre vida? Estarei em tibieza?" (1965)
"Penso que foi em 1966... Era a Novena de Pentecostes que, desde o Noviciado (e, até antes de entrar) costumava viver com muita intensidade, senti-me atraída a oferecer a Deus alguma coisa mais do que o habitual... Pensei nos Sacerdotes, cuja santificação prendia a minha oração já desde muito novita ... E pedi licença para oferecer, a favor deles, a renúncia a todo conforto espiritual, a toda a facilidade na oração, a tudo o que me pudesse dar a “certeza moral” da presença do Senhor. Ofereci-me para a solidão, para o abandono interior... para me crucificar com Ele, mas por detrás da Sua Cruz, sem O ver, sem O sentir..."
"... Tenho tido horas de agonia, chego a ter medo de blasfemar...! mas quero, quero, quero meu Deus, permanecer fiel, agora mais do que nunca, custe o que custar. Será presunção pensar que Vós tenhais aceitado aquele oferecimento? Não será, pelo contrário, fruto da minha infidelidade? Meu Deus, aceitai-me mais uma vez e dai-me força!" (1969)
"Meu Jesus, é isto que eu quero: parecer-me conTigo, num silêncio eloquentemente fecundo, exposto o meu rosto e todo o meu ser à humilhação – justa ou injusta! – e sem abrir a boca para me queixar ou defender... Meu Jesus, dá-me a Tua serenidade tão digna, diante do Pai, que nos olha – a Ti e a mim! – com o mesmo olhar complacente! Somos os dois – Tu e eu - filhos amados em quem Ele põe toda a Sua complacência. Mas não somos ambos igualmente humildes.
1981 - 1990
A PROFECIA DO SERVO DE DEUS CARDEAL EDUARDO PIRÓNIO CONFIRMOU A ÍNTIMA CERTEZA DA FUNDAÇÃO DE UM NOVO CARMELO
Este Cardeal foi, de entre outras coisas, o
A certeza de um chamamento particular ela obteve-o...
"Muito antes, mas particularmente desde 1982...Passava o tempo, mas não o meu atrativo..."
idealizador das Jornadas Mundiais da Juventude.
"Meu Deus, aquela profecia do Senhor Cardeal Eduardo Pirónio impressionou-me... Meu Deus, sim, o que TU quiseres, mas dá-me força e realiza a Tua Vontade! - «Em Nome do Senhor lhe digo que é Sua Vontade Santíssima que ...»
Se assim acontecer, FIAT! - Mas não quero pensar mais. Ajuda-me ó Pai..." (1985)"
O Cardeal Eduardo Pironio esteve de visita algumas vezes ao Carmelo de Coimbra, incluindo um Retiro que pregou às Irmãs. Numa dessas visitas a Madre Maria das Mercês - já Superiora - dialogou com ele. Depois de uma dessas conversas ela escreve:
"Ajuda-me a ser como Tu, mansa e humilde de coração!...Meu Jesus, o que nós os Dois combinámos, está combinado!
... Não Te canses a apaparicar-me..."(1985)
Havia entre os dois uma forte amizade e alguma correspondência epistolar.
A última vez que a Madre Maria das Mercês viu o Cardeal em Coimbra foi antes de vir para a Guarda como fundadora
"Querida Madre Superiora: Acompanho-a nestes dias do seu deserto. Estou a rezar de um modo especial por si (...) quero agradecer-lhe a delicadeza e a bondade com que me trataram durantes estes dias que o Senhor me concedeu como uma graça. Verdadeiramente experimentei a presença do PAI, a bondade de MARIA nossa Mãe. (...) Foram dias, para mim, de repouso em Deus. Esta graça culminou com a minha visita a Nossa Senhora de Fátima. Dou graças ao Senhor por Maria." (19 de Setembro de 1983)
"Não sabe o quanto lhe agradeço as coisas tão delicadas e filiais que me escreve em nome de toda a Comunidade. Eu também recordo aqueles dias como momentos muito fortes de experiência de Deus Pai, de presença de Maria, o profundo clime de Igreja. Reze por mim, a cruz é mui grande. Estou feliz nas mãos do PAI..." (14 de Novembro de 1983)
"Muito querida Madre Maria das Mercês de Jesus: Quanto agradeci a sua carta, os seus sentimentos tão filiais e as suas orações, junto com as de todas as «minhas queridas filhas de Coimbra». Como as senti tão perto espiritualmente e acompanhando-me neste momento providencial que o PAI me faz viver. É uma Quaresma nova para uma Páscoa nova. Estou muito sereno e feliz nas mãos do Pai: Senti particularmente a presença maternal de Nossa Senhora. Eu creio que o «nosso encontro» de Setembro e a «nossa oração» sobre o PAI me preparou para tudo isto (...) vivo a minha quaresma com serenidade interior e com gratidão ao PAI... PS: Para si, querida Madre Maria das Mercês uma gratidão especial já que me acompanha, com a Ir Lúcia, desde dentro do «segredo». FIAT!" (13 de Março de 1984)
"Querida «Madrecita»: Obrigado pela sua carta 'particular'. Alegro-me muito pelo que me diz sobre a sua própria alma. Rezo muito por si. Sobre o 'segredo', terei que ir por um mês e meio a Honston (EEVV) para mais irradiações. Rezem muito....» (não tem data)
1991
. VISITA E ESCOLHA DO TERRENO EM TERRAS DA GUARDA, PARA O NOVO CARMELO
"Queremos manter uma Comunidade pequena, em que as Irmãs se possam conhecer bem para bem se amarem, em grande mas respeitosa simplicidade, que gera a verdadeira alegria tão característica na Carmelita... queremos uma Casa de Oração, reduzida ao mínimo nas suas dimensões, pois da fazenda dos pobres não se devem fazer grandes casas" (1993)
"Ontem, Jesus, foi, como sabes, um dia grande: Nós as 5 Irmãs do Conselho, fomos à Guarda, concretizar o local do futuro Convento. E concretizámo-lo de facto. Ó bosques e espessuras plantados pela mão do meu Amado..." - Numa pequena encosta, situada a cerca de 900 metros de altitude um belo e extenso terreno pertencente à Diocese... Trouxemos para exemplificar a nossa escolha e servir de sinal sensível da nossa aceitação, pequenos frutos da terra: castanhas apanhadas pelo chão – rebusco da última colheita - maçãs provenientes, do pomar que, em parte, podem ficar incluído no terreno, bolotas de carvalho, etc.
Dentro deste poderão
conservar-se árvores
multiseculares,
que poderão dar
à futura cerca
um ótimo ambiente
eremítico. Ó Jesus,
obrigada. Não
esperávamos
tanto ...!" (1991)
1993
. Na primeira pedra do novo Carmelo
+ Discurso diante das autoridades civis e religiosas, a 19 de Março de 1993.
A Madre Maria das Mercês de Jesus como Superiora, a sua 1ª Conselheira e a Ir Lucia do Coração Imaculado, deslocaram-se à Guarda, para verem, a pedido do senhor Dom António, Bispo da Guarda, se as instalações respondiam minimamente às necessidades da nova Comunidade
A Madre Maria das Mercês de Jesus impressiou-nos sempre porque era completamente calma fosse qual fosse a circunstância, apresentando sempre um rosto acolhedor pela sua alegria serena e interior, e isto até ao fim da vida... Transmitia uma paz surpreendente que só podia vir de Deus!
Escreveu ela por esses dias:
« Que hei-de eu dizer neste momento, eu, Carmelita, habituada a uma vida de silêncio e escondimento? ... viremos somente trazer-vos o testemunho de que Deus existe e merece todo o nosso Louvor e Adoração (...) um pensamento de amor dirigido a Deus em favor dos Irmãos vale mais do que todos os serviços que lhes queiramos prestar...»
"As raposas têm as suas tocas, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça...meu Jesus ajuda-me a viver neste despojamento!..."
1994
30 de MAIO
. VISITA ÀS INSTALAÇÕES PROVISÕRIAS DAS IRMÃS E À CONSTRUÇÃO DO NOVO CARMELO
24 de AGOSTO
. SAÍDA DEFINITIVA DE COIMBRA PARA A FUNDAÇÃO DO CARMELO NA GUARDA
A Madre Maria das Mercês de Jesus dias antes de se pôr a caminho definitivamente com as irmãs que íam para a nova fundação, reuniu todas as Irmãs pertencentes á Comunidade e, de entre outras coisas disse o seguinte:
«Da minha parte, minhas queridas irmãs, quero dizer-lhes que vou numa atitude de plena liberdade, num imperativo de consciência que já há muitos anos sinto dentro de mim e que declarei repetidamente com toda a franqueza aos legítimos Superiores. Eu vou, mas fico. O Senhor pede-nos que nos vamos ...»
À hora de partir...foi ocultar-se na Oficina das Hóstias do Carmelo, para poder dar largas a um grande pranto doloroso...a separação mordia-lhe ferozmente as entranhas, apesar da alegria de cumprir a Vontade de Deus! Era natural: tantos
anos naquela Comunidade...tanta dedicação, tantas graças recebidas do Senhor...
Só cá na Guarda, depois de alguns anos, quando uma das irmãs - a que era o seu braço direito na fundação - lhe perguntou onde se tinha metido naquela hora é que revelou o seu segredo!
«Amo as Irmãs, uma por uma e se deixasse falar só o coração, negar-me-ía a qualquer projeto, mas sinto que isto é uma exigência do Senhor!»
. ENTRADA DAS IRMÃS DA DIOCESE DA GUARDA
ESTÁ FUNDADO O CARMELO NA GUARDA
«... foi com verdadeira confusão que presenciei a receção apoteótica que nos fizeram aqueles milhares de cristãos reunidos na Catedral. As manifestações
de simpatia, estima e apreço foram
sem conta, a ponto de ter sido
bastante difícil a nossa
arrancada da Sé onde
pessoas de todas as
idades e condições
sociais nos felicitavam,
abraçavam, beijavam..."
. NAS INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS DO CENTRO APOSTÓLICO DOM JOÃO OLIVEIRA MATOS
"É certo que temos de atualizar-nos e eu sou a primeira a dar-me conta de que, sem isso, nada feito quanto a vocações, mas até que ponto temos de ir sem prejudicar o essencial? Não são só,nem principalmente as que entram mais recentemente que podem julgar este ponto: há uma experiência de muitos anos – e séculos- que nos diz que em muita coisa não podemos ceder. A criatividade tem os seus limites...!
Já antes da Fundação, no tempo dos seus preparativos ela dizia e escreveu:
"É preciso ir mentalizando aquelas Irmãs que pensamos levar no sentido de que não vão sonhando com coisas e coisitas a modificar, pequenas aspirações humanas a realizar. Não é isso que se impõe. O que se impõe é a criação de um ambiente de profunda oração em que uma única preocupação subsista: buscar a Deus, viver com Ele, depois de melhor O conhecer e amar, viver metidas n’Ele, no Seu Mistério Trinitário...- é preciso puxar para cima as futuras Irmãs do Carmelo da Guarda..."
"Façamos com determinação a caminhada sem recalcitrar pela falta da «água e da carne», sem chorar as «cebolas do Egito»... Tenhamos paciência pela espera da Terra prometida que nos está a tardar. Vamos só em 13 meses... os nossos pais, no deserto, tardaram 40 anos!"
"Todas tenham em vista, com equilíbrio e liberdade de espírito, que a frase da Santa Madre “Oração e vida regalada são incompatíveis” não foi escrita para matar o corpo de umas nem o espírito de outras. Sejamos humanas como ela foi, peçamos ao Senhor que nos dê o discernimento e a intuição da psicologia feminina que ela teve e nos faça tão espirituais como ela!..."
"A planta só deita raízes, porque se abandona inteiramente à ação da terra e da água de que se alimenta!..."
"A vida de intimidade com Deus exige ambiente propício.
Muito dificilmente, e só por uma graça especial de Deus, pode
uma pessoa que O busca encontrá-l’O em profundidade".
"Sempre que se fez ou faz um esforço sincero para aceitar o Evangelho de uma maneira radical, a comunhão de sentimentos tende a traduzir-se em comunhão de bens baseada no Amor Fraterno, ao inverso de qualquer ideologia que pretende impor essa comunhão pela força ou por simples reformas económicas..."
« A guerra que rebentara a 17 de Janeiro no Golfo Pérsico, trazia o mundo em tristeza e em luto!... Quero abarcar com o amor do meu coração e a minha oração silenciosa, toda a vastidão das necessidades e do pecado do mundo... Senhor, fazei de mim um outro agonizante do Jardim das Oliveiras!...»
1996 : 6 de MARÇO . MUDANÇA DAS IRMÃS DAS INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS PARA O CARMELO NOVO
BOSQUE DOS CASTANHEIROS DE ENTRE OUTROS ESPAÇOS
MARAVILHOSOS
EDIFICIO DO MOSTEIRO ONDE A COMUNIDADE VIVE E REZA
A nossa vida de solidão exigiu que mais tarde se construísse outra Ermida. ERMIDA DA MÃE DE DEUS que se situa mais perto do Carmelo.
Esta 4ª Ermida é uma mais valia para as irmãs que, por qualquer razão, não podem subir ao nosso lindo Ermitério.
A Madre Maria das Mercês
frequentava-a com muita frequência
ERMIDA DA MÃE DE DEUS
ENTRADA DO CARMELO
ERMIDA DO MONTE CARMELO
ERMIDA DO ANJO DA PAZ
Biblioteca
ERMIDA DO GETSEMANI
1996
13 DE JULHO
. DEDICAÇÃO DO ALTAR E DA IGREJA DO CARMELO DA SS TRINDADE
Senhor Dom António dos Santos
14 DE JULHO
. PROFISSÃO SOLENE EM TERRAS DA GUARDA, PELAS MÃOS DA MADRE MARIA DAS MERCÊS DE JESUS
"... ao fazermos a entrega definitiva pelos Votos de Castidade, Pobreza e Obediência, tornamo-nos pertença de Deus na
radicalidade espiritual e jurídica desta expressão. Então é que se realiza
a autêntica Consagração"
"... depois daquela bela manhã, Jesus consagrou como Sua pertença no Carmelo a nossa querida Irmã..."
Irmã Maria, a primeira a Professar os Votos Solenes em terras da Guarda na nossa Igreja
1996 - 2001
"A nossa espiritualidade é esponsal, só numa identificação de ideais, ainda que na diversidade de temperamentos e caracteres, uma Comunidade Carmelitana é fecunda..."
Madre Maria das Mercês com Aquela que foi o seu braço direito na realização desta fundação - Madre Teresa de Jesus que se lhe seguiu como Superiora na Comunidade fundada
Pe Francisco de Sales, Jesuita
Diretor Espiritual da Madre M Mercês
nesta época
ALGUNS TESTEMUNHO DE IRMÃS:
«Era delicadíssima e possuía tacto quando tinha que chamar à atenção, sem fazer psicologia! Ela amava....era o segredo que tinha! Pedia quase por favor, quando necessitava da obediência das suas filhas...»
«Quando estava sentada á sua secretária a trabalhar e eu entrava, lançava-me um sorriso acolhedor e largando tudo, disponibilizava-se para mim. Nunca mostrou que estava muito ocupada ou tinha pressa, por mais pressas que tivesse!»
«Era tão mansa que nos parecia ser "Deus no meio de nós", mas por outro lado o seu governo era firme e o seu juizo sereno! Estava desprendida do "poder" e de si mesma!»
«Tinha uma capacidade de discernimento impressionante...toda ela transpirava interioridade e amor...»
2002 - 2005
"Quem se esvaziou e se enche cada vez mais da Plenitude Absoluta do Deus que é Tudo, quer comunicar aos outros a alegria desta riqueza e isto é o momento máximo da exigência da autenticidade ... Não basta viver debaixo do mesmo teto. A Vida Comunitária tende para a comunhão de bens materiais e espirituais, sendo a primeira uma consequência da segunda. A caixa comum não resolve tudo. E até não resolve nada se os espíritos estão fechados e não sintonizam com as dificuldades, alegrias e dores de cada uma, em mútua e fraternal convivência..."
"...falta-nos bastante tempo para reuniões
comunitárias muito frequentes e por
sermos poucas temos procurado
conhecer-nos o melhor possivel
e daí o sermos muito abertas
umas com as outras, os nossos
recreios tornam-se formativos,
alegres e confiantes, de modo
que as advertências mútuas
saem espontâneas, num
estado jocoso que não fere
nem deixa ninguém magoado..."
"«...as exceções pessoais concedidas pelo Superior por justos motivos – ofício, saúde – não se opõem à vida comum, pelo contrário demonstram que a vida comum é baseada numa igualdade de amor fraterno e não numa igualdade de direitos...Devemo-nos alegrar com as exceções concedidas aos outros, o Amor não é nivelador”...!"
Pe. José carlos Belchior, Jesuita , amigo e diretor espiritual da Madre Maria das Mercês desde 2004 até à morte da mesma ocurrida a 2011
. EM 2005 DEIXOU O GOVERNO DA COMUNIDADE E DEDICOU-SE À FORMAÇÃO DAS QUE ENTRAVAM
2005 - 2010
«...7 de Fevereiro de 2005...Graças a Deus a Comunidade elegeu nova Prioresa na pessoa da nossa querida Ir Teresa de Jesus. Foi uma grande alegria para mim. Esperava tanto este momento, pedi tanto ás irmãs que mo proporcionassem! Graças a Deus chegou a hora!...»
O sublinhado é dela!
Esta fotografia ao lado, foi tirada no Domingo do Bom Pastor do ano de 2005...o nosso Carmelo tem o Costume de, nesse domingo especial do Bom Pastor, as Irmãs mais novas fazerem um cajado de flores à mistura com rebuçados para depois serem distribuidos por todas. Vemos aqui a Madre Teresa de Jesus, eleita Superiora já alguns meses, que convidou a Madre Maria das Mercês a segurar também no cajado de «boa pastora» deste pequeno rebalho, porque, de facto, a Madre Maria das Mercês não deixou nunca de ser uma referência no governo e na formação da Comunidade.
Alegre na sua humildade participava em tudo com liberdade de espírito! Sempre a vimos desprendida do PODER....
Vimo-la sempre assim...
São deliciosas estas palavras do seu caderno, escritas em 2006, a falar com Jesus:
"Meu Jesus, venho contar-te uma aventura das que o Padre Eugénio (o Pe Eugénio era o Confessor da Comunidade) gosta: - depois de ter andado a rezar o terço no centro do Claustro, sem perguntar à Nossa Madre se vinha comigo, fui às minhas instalações de Retiro – que são várias consoante o tempo o permite – peguei aos poucos em toda a tralha que lá tinha (mesa, cadeira e livros) e vim-me instalar no local que normalmente mais me agrada, junto do Cemitério.
Entretanto pelo caminho encontrei a Nossa Madre...pensava que ia ouvir um sermão sobre a obediência e qual não foi a minha surpresa ao ver a Nossa Madre pegar pacificamente no último traste que ficara a meio do caminho – a mesa - e vir tranquilamente colocá-la no lugar do meu costume. – Será que isto é um princípio de independência que tanto anseio? - Tive sorte não me ter encontrado com a minha enfermeira, que sem mínima dúvida, me teria feito um grande discurso... Meu Jesus, ajuda-me a ser forte, não por orgulho nem desobediência, mas por fidelidade ao nosso estilo de vida: solidão e bastarmo-nos a nós mesmas. Que isto seja para durar!..."
Pe. Eugénio Sério, do Presbitério da Guarda.
Amigo da Comunidade e Confessor e confidente da Madre Maria das Mercês até ao momento da sua morte. Foi um sacerdote cheio de Espirito de Discernimento. A Nossa Madre Maria das Mercês ao referir-se a ele dizia: «O meu Jesus ainda não veio?...foi um sacerdote que tinha o dom de lhe devolver a paz e a esperança em momentos de escuridão e opressão interior.
Eugénio da Cunha Sério nasceu a 19 de Fevereiro de 1934 em Vila Cova à Coelheira,
no concelho de Seia, Distrito e Diocese da Guarda. Frequentou os Seminários Diocesanos do Fundão e da Guarda entre 1941 e 1954. Foi ordenado Diácono a 17 de Março de 1956 e ordenado Sacerdote, na sua terra natal, a 19 de Agosto do mesmo ano, pelo Bispo Domingos da Silva Gonçalves. Ao longo da sua vida, o padre Eugénio exerceu várias funções e teve um papel fundamental na construção do Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos e da Igreja da Guarda-Gare. Entre outros cargos foi Professor e Prefeito no Seminário do Fundão, Professor no Liceu da Guarda, no Magistério Primário e no Instituto Superior de Teologia de Viseu, Pároco de São Vicente e da Guarda-Gare, Director Espiritual no Seminário Maior, Cónego Capitular da Sé da Guarda, Director da Casa dos Gaiatos, Chefe de Redacção do Jornal A GUARDA. Actualmente desempenha as funções de Director do Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos, Director do Jornal A GUARDA, Gerente da CASA VÉRITAS, Penitenciário da Sé Catedral, Director do Departamento do Património Cultural da Diocese da Guarda.
O Senhor Dom Manuel da Rocha Felicio, Bispo da Guarda, em conversa animada com a Madre Maria das Mercês
"E o silêncio interior, minhas filhas, de quantos pensamentos inúteis, de quantas procissões por dentro teremos de jejuar?»
Esta fotografia foi no dia em que a
postulante Yara, vestiu o Hábito carmelita com o nome de Maria Teresa da Cruz.
A Madre Maria das Mercês foi uma educadora excecional e maravilhosa, tal como tinha sido de Superiora, sempre firme, mansa, cheia de solicitude...
"O nosso jejum projetado no SILÊNCIO...tem de ser, em primeiro lugar, de palavras inúteis, de palavras fora de tempo e de lugar, de palavras distractivas para as outras irmãs, particularmente quando se trata de Irmãs em Formação que estão a exercitar-se na oração contínua...»
No meio das alfazemas com as suas formandas.
"Meu Jesus...queria preparar-me...queria realmente pensar só em Ti!..."
2008
2007
"É necessário chegar a uma afabilidade que se traduza em sorriso por muito que custe, à abstenção da dureza, a um silêncio perante a palavra dura, a um jejum que é ausência de ruído interior e exterior e deve levar consigo o condimento do Amor a Deu e aos irmãos que tempera todas as negações e as torna aceitáveis à nossa pobre natureza...!"
"Obstrução da Artéria Aorta - de nascença - herdada pela minha
mãe - Angina de peito (Avó,
Mãe e Irmãos - Tudo me cansa..."
"Como chegarei eu a Ti se Tu
não vens tomar-me para me
elevar até aos horizontes
divinos? Como a águia
diante do sol, atraí-me
para o Teu grande
poder de Amor.
Amando-Te, eu
poderei oferecer-me
conTigo."
"Desprender-me de tudo o que é puramente humano e me perturba e pôr os meus olhos puramente em Deus. Assim terei sempre Paz!..."
Que nos dessemos conta, no ano 2010, um dia ao entrar no Recreio, estava lá a sua enfermeira e notou algo especial no olhar da Madre Maria das Mercês. Depois de lhe ter perguntado várias vezes o que motivava aquela alegria interior tão notória - estavam as duas sozinhas à espera da Comunidade:
"Tu, Senhor, foste até ao extremo no dom gratuito do Amor, através do sofrimento físico e moral, e eu resmungo tantas vezes para servir até ao fim, generosamente....»
"Aqui estamos para nos entregarmos com a decisão de todo o nosso ser à missão eclesial..."
"O Pai deixou em nós, a Sua Sombra Criadora...!"
"Tive a visita de Jesus e disse-me algumas coisas ...mas a irmã nunca o revele a ninguém, nem depois da minha morte...fica só entre nós!"
2010 - 2011
. Em 2010 SOFREU UMA FORTE CRISE CARDÍACA QUE A FEZ RETIRAR-SE, AOS POUCOS, DO SEU OFÍCIO DE MESTRA DE NOVIÇAS
Todos os testemunhos são unânimes em dizer que viram nela a irradiação de Deus. A PAZ extraordinária que a possuía, notava-se, dando verdadeiro alento a quem a escutava.
Sempre serena, delicada, cheia de Bondade e alegria
interior que transparecia do seu olhar e do seu semblante.
"Preguiça, moleza, desleixo, facilidade nunca levarão ninguém pelo caminho do Reino. Que eu caminhe com coragem!...para que os meus esforços possam ser um trampolim para Ti, penetra-os da Tua graça vivificante!"
Entretanto começaram a chegar as restantes irmãs e já não puderam conversar mais, mas depois a sua, numa primeira oportunidade, a sua enfermeira perguntou à Nossa Madre Teresa de Jesus que era a Prioresa se ela lhe tinha dito algo sobre o confidenciado, e disse-lhe que sim.
"Oferecer a Deus todo o sacrifício...«cumpro na minha carne o que falta à paixão de Cristo» Estou em Cristo para salvar a humanidade..."
"Quero abandonar-me como quando era jovem, quero dar-me inteiramente a Deus, que, sobretudo, viver permanentemente com ELE!..."
2011
. ANO DA SUA PARTIDA PARA O CÉU
Sempre doce, meiga, calma e transpirando PAZ... apesar de ter vivido o terrivel SIÊNCIO DE DEUS. Um dia escreveu isto:
"Não sou capaz de falar daquilo que sinto, nem dizer aquilo que preciso dizer. Quanto a mim, tenho apenas a alegria de nada ter nem sequer a realidade da Presença de Deus: nem oração, nem fé, nem amor..."
Um dia, do ano de 2011, pediu-me papel e caneta e começou a escrever.
Eram garatujas o que ela escrevia, ou letras soltas. Eu sabia que ela já não
conseguia escrever e passado um pouco de tempo perguntei-lhe: - Querida
Madre o que é que está a escrever? e ela respondeu prontamente com um
grande sorriso:
Só quem tem a experiência de Jesus no cimo da Cruz compreende a profundidade deste sofrimento...e a alegria de estar simultaneamente em Deus!
"Estou a escrever cartas a Jesus, já não consigo escrever, mas Ele entende tudo!"
Todas tínhamos uma grande «loucura» por ela. Sentiamos que ela já não estava para muito tempo...
viva constantemente na presença de Deus....
A sua Enfermeira
"Se a nossa ocupação e preocupação reside nas formas «exteriores», estamos a cultivar a ruína da nossa vida. O essencial nunca pode ser abafado pelo acessório, senão estaremos perdidas!
A fé é uma das virtudes mais necessárias ao Contemplativo: fé que transponha distâncias, que trespasse nuvens densas, que, apesar de todas as insensibilidades, dê asas àquele que ama o seu Deus. Para O procurar onde Ele se escondeu e buscando-O escondidamente; O atrair de novo para si, caso seja essa a Vontade do seu Amado... Outra virtude característica e indispensável é o AMOR... Amor que lhe vem da prática da fé... e o leva a agir em tudo e através de tudo com a maior consciencialização e perfeição possíveis a uma criatura humana."
Em Agosto de 2011 disse admirada, à Irmã que estava a tirar as fotografias: Para quê tanta fotografia? - Ela não imaginava que a queríamos reter connosco...víamos que brevemente nos deixaria!
"Há quem pense que os “contemplativos” são os “privilegiados” de Deus, em termo de facilidade de vida, ociosidade, gozo estático. A Santa Madre Teresa de Jesus, a grande contemplativa e Mestra de Oração diz a quem assim pensa: «... não queirais passar pelos trabalhos e canseiras dos contemplativos».
"... É que, para manter em fidelidade e dinamismo, um clima de contemplação há que esforçar-se na renúncia habitual, há que sobrepor-se a muitos atrativos da natureza, há que esvaziar memória, inteligência e vontade de tudo o que não é exclusivamente Deus. Para viver uma vida em que autenticamente «só Deus basta!» há que deixar tudo o que não é Ele e... deixar-se a si mesmo... e depois? – Depois – oh! Quem diria? O Senhor toma realmente “posse” dessa vida."
«A finais de Setembro, a nossa querida Madre Maria das Mercês pediu para ficar depois da Eucaristia em Ação de Graças. Lá fiquei eu - como enfermeira dela, e ela. Ao fim de um bom pedaço de tempo como vi que ela não se mexia e já estávamos lá a um bom pedaço de tempo, toquei nela e disse-lhe ao ouvido: «Madrinha vamos...que a Nossa madre já deve estar preocupada connosco...já estão todas a comer». Ela, subitamente e sem voltar a cabeça, colocou a sua mão na minha e disse:
A sua voz era suave. Olhei para o rosto dela e estava diáfana, sem ruga alguma, com os olhos fixos em algo que eu não via. Um sorriso luminoso como que observando Alguém...e assim permaneceu cerca de três quartos de hora. Tive a certeza de que ela havia tido uma visita especial parecida àquela ocurrida em 2010. Quando de lá saíu permaneceu em grande silêncio, com uma postura de grande interioridade. Quando contei à Nossa madre, disse-me que na altura em que a acompanhou ao recreio havia notado algo especial nela e que por muitas horas permaneceu em grande recolhimento de espírito.» Testemunho da Irmã, sua enfermeira
"Espere um pouco...que ainda não ouvi tudo..."
Uma das coisas que nos marcou foi quando, de noite, caíu e partiu o nariz em duas zonas. Foi numa noite da primeira quinzena de Setembro.
«Nunca se queixou! Isto impressionou-me muito!» Testemunho da Prioresa na altura
«Quando partiu o nariz, parecia um cordeirinho levado ao matadouro, olhar doce, gestos suaves, não chamava a atenção sobre ela própria...não mendigava afeto... e que difícil é isso quando a pessoa se vê privada de saúde e as trevas instaladas na alma!» Testemunho da Irmã que fou a sua enfermeira
"Filhinhas, sejamos verdadeiras Carmelitas Descalças! Só isto nos importa para ganharmos os nossos irmãos. A oração é a única arma que nos foi dada para combater por Cristo...; sair daqui é perder o Norte!"
"Vão filhas! que eu espero que a Mãe
do Céu venha buscar-me e falar de
Jesus!" (6 de Setembro)
"Sofro muito..." - «no corpo?» perguntou-lhe a Nossa Madre - "Sim...um pouco..." - «E na alma? »..."Na alma também...por Jesus!" (29 de Setembro)
Um dia voltou-se para a Irmã e disse-lhe: "Vá chamar a Nossa madre... estou desfeita por dentro..." - «na alma?» perguntou a Irmã - "Sim...na alma..." (27 de Outubro)
Ela um dia disse-me que "Se por um lado Deus se me revelou cheio de Misericórdia, por outro sinto o rigor da Sua Santidade..."
. AS QUINTAS - FEIRAS E O ESPÍRITO DAS TREVAS
"Meu Jesus, tu sabes quantos desejos tenho de ser Tua, de viver conTigo... mas sinto-me tantas vezes como dominada pelo maligno e... sem saber porquê "
"Senhor, nas horas em que eu tombo sob o sofrimento,
dai-me ou vir as Vossas palavras reconfortantes e acreditar, apesar de
tudo, na Vossa presença de Amor.."
Somos testemunhas de que no ultimo ano, principalmente à 5ª feira, era “torturada internamente” especialmente na hora da Exposição do Santíssimo ou durante a Eucaristia. Era incrivel a agitação dela, o esforço por estar e permanecer diante de Deus...e comungar? Quanta perplexidade a Nossa Madre e a Irmã Enfermeira tinham, pois pensavam: «que irá acontecer?» Em geral as irmãs não se davam conta desta luta tremenda que a nossa queridissima Madre tinha e pensavam algo diverso, mas nunca imaginaram a verdade! O seu rosto cobria-se de rugas grossas sobre as que já existiam própria da idade e ficava desfigurado. Um olhar cheio de angústia e toda ela exalava inquietação. A sua Enfermeira esforçou-se sempre por evitar que as Irmãs vissem este rosto desfigurado....Esta fotografia do lado, foi tirada depois de uma Eucaristia numa das 5ªs feiras...já mais serena, contudo o rosto aparece ainda alongado e muito envelhecido.
Estando habitualmente serena e irradiante de
paz profunda, quando começávamos as Vésperas dessas
5ªs feiras, com a Exposição do SSmº, ou a aproximação da
Eucaristia, a querida Madre começava a sentir uma
agitação negra muito grande, e muitas vezes tinha de sair do
Coro, porque era IMPOSSÍVEL permanecer diante do Senhor.
Um dia desses, foi com a sua enfermeira até ao Sacrário... e com voz cavernosa e angustiada, disse:
Esta frase impressionanrte, carregada de uma angústia sem paralelo, feriu os ouvidos da Irmã Enfermeira que a acompanhava, e esta não pôde fazer outra coisa senão chorar, quando teve oportunidade de o fazer! Era Jesus no Getsemani.
"Estou condenada...tenho tanto medo...!"
" Quero ser um outro agonizante no Getsemani...".
"JESUS É O MEU OUTRO «EU»"
A sua disposição permanente, nestas horas terriveis ou nos momentos de paz expressa-se nestas palavras escritas por ela:
"Quero abandonar-me como quando era jovem, quero dar-me inteiramente a Deus, quero, sobretudo, viver permanentemente com Ele..."
"Ó Jesus, esta é a Nossa fórmula:- eu para Ti, Tu para mim, os Dois para o Pai na Unidade do Espírito Santo, com Maria Nossa Mãe, na Santa Igreja. Gostas?..."
"Resta-me esperar o Céu ou...o que Ele quiser contanto que haja lá alguém que O louve e O ame, cantando eternamente que foi bom tudo o que Ele fez..."
Em Novembro de 2011... cada vez mais aborta no sofrimento e em Deus... viamo-la partir...
"Jesus é o meu outro «eu»! ... Olho para o Pai através dos olhos d'Ele!"
sempre serena e doce...
Este é o seu testamento espiritual:
"HÁ UM DEUS QUE NOS CRIOU E NOS AMA E NOS CHAMA A VIVER NA SUA INTIMIDADE, E HÁ QUE DAR-LHE AMOR POR AMOR!"
Antes de morrer cantou à Virgem Maria, um canto que lhe era muito querido em francês:... «Toujours toujours...je veux aimer Marie...»
e repetia: «JESUS...EU AMO-TE!..."